I – Evolução Histórica
Por volta do séc. V a.C. viviam
uns povos denominados de Indo-Europeus, ou Arianos. Apesar de não terem
escrita, sabe-se que atingiram um grau relativamente elevado de civilização.
Espalhados por vários locais e
sem comunicação entre si, foram-se aqueles povos diferenciando cada vez mais
uns dos outros: nos usos e costumes, na cultura, e, por isso mesmo, na
linguagem. Evoluíram em sentido divergente, enriqueceram-se de novos termos, formas
e expressões, e deram origem a doze grupos principais de idiomas, tão distintos
uns dos outros, que só há um século se descobriu o parentesco que existe entre
alguns deles.
Desses doze grupos, destacamos o
Grupo Itálico, que depois deu origem a três línguas independentes: o sabélico,
o osco-úmbrio e o latim.
Depois do estabelecimento do
Império Romano na Europa, o latim passa a ser a língua dominante, dando origem
a várias outras línguas chamadas de românicas. No entanto, a Península Ibérica
voltou a sofrer grandes alterações com a invasão dos Bárbaros e,
posteriormente, com a invasão dos Árabes. O vocabulário português de origem
árabe denuncia bem em que medida se exerceu entre nós a sua influência,
introduzindo na Península novidades referentes à agricultura, indústria,
ciências e artes, comércio, administração, etc. (Ex. alambique, álcool,
algarismo, alqueire, azul, garrafa, xarope, etc.)
É difícil, no entanto, precisar
a época em que se começa a falar o idioma a que hoje chamamos PORTUGUÊS. Há mesmo
quem pense que o português começou a formar-se desde o momento em que os
Romanos se estabeleceram no nosso território. Nos fins do século XIII teve as
honras de língua oficial, mas já cem anos antes era o instrumento de uma
literatura brilhante e rica.
II – Evolução Fonética
As palavras são compostas de
fonemas que também estão sujeitos a transformações, pois, com o passar do
tempo, as diversas gerações de falantes vão alterando a pronúncia das palavras.
A essas alterações sofridas ao longo do tempo damos o nome de fenómenos fonéticos.
É importante conhecer a “vida”
das palavras e as transformações que sofreram, porque, muitas vezes, só
compreendemos a forma atual de algumas delas se conhecermos a sua evolução.
Vamos abordar, então, alguns
desses fenómenos:
A. Queda de fonemas:
1
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Aférese
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ð
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Supressão de um fonema no início da palavra.
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Ex: inamorare > namorar
2
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Síncope
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ð
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Supressão de um fonema no meio da palavra.
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Ex: malu
> mau
3
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Apócope
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ð
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Supressão de um fonema no fim da palavra.
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Ex: legale
> legal
B. Adição de fonemas:
1
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Prótese
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ð
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Acrescentamento de um fonema no início da palavra.
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Ex: stare > estar
2
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Epêntese
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ð
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Acrescentamento de um fonema no meio da palavra.
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Ex: stella > estrela
3
|
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Paragoge
|
ð
|
Acrescentamento de um fonema no fim da palavra.
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Ex: ante > antes
C. Permuta (troca) de fonemas:
1
|
|
Metátese
|
ð
|
Transposição de um fonema dentro de uma palavra.
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Ex: semper
> sempre; pro > por
2
|
|
Hipértese
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ð
|
Transposição de uma sílaba dentro da mesma palavra.
|
Ex: parabola > palavra
C. Transformação de fonemas:
1
|
|
Assimilação
|
ð
|
Um fonema influencia o outro e transforma-o.
|
Ex: persona > pessoa (houve também síncope)
NOTA:
Como o elemento assimilador está depois do assimilado, dá-se a assimilação regressiva. Se se verificasse o
contrário, a assimilação chamar-se-ia progressiva.
2
|
|
Dissimilação
|
ð
|
De dois fonemas iguais, um deles torna-se diferente.
|
Ex: raru
> ralo
3
|
|
Consonantização
|
ð
|
Transformação de uma vogal em consoante.
|
Ex: Iesus > Jesus
4
|
|
Vocalização
|
ð
|
Transformação de uma consoante em vogal.
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Ex: regno
> reino; octo > oito
5
|
|
Crase
|
ð
|
Fusão de duas vogais iguais.
|
Ex: seer
> ser; dolore > door > dor
6
|
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Sinérese
|
ð
|
Transformação de vogais num ditongo.
|
Ex: lege
> lee > lei
7
|
|
Nasalação
|
ð
|
Transformação de um fonema oral em nasal.
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Ex: nec
> ne > nem (houve também apócope)
8
|
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Desnasalação
|
ð
|
Desaparecimento da nasalidade de um fonema.
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Ex: corona > corõa > coroa
(houve também síncope)
9
|
|
Sonorização
|
ð
|
Transformação de uma consoante surda em sonora.
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Ex: fata
> fada; amicu
> amigo
10
|
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Palatalização
|
ð
|
Transformação de grupos fonéticos num som palatal.
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Ex: hodie
> hoje; filium > filho; clamare > chamar
III – Evolução Semântica
Além da
evolução fonética, grande parte das palavras sofreram também modificações de
sentido, apresentando algumas um significado muito distante que tinham na sua
origem. Apresentamos aqui alguns exemplos:
Vocábulos
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SIGNIFICADO
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Original
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Actual
|
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caderno
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folha de papel dobrada em quatro.
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qualquer porção de folhas de formato livre.
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fogo
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lar onde se acendia o lume.
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o próprio lume.
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mundo
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limpo (do adj. mundus).
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terra. (atente-se no adj. imundo).
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parvo
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pequeno ( de parvus).
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idiota; tolo.
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senhor
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mais velho (de seniorem).
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forma de tratamento.
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solteiro
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que vive só (de solitarium).
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que ainda não casou.
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ministro
|
o que serve, o que ajuda.
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função política.
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calamidade
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cana de trigo ou outro cereal.
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flagelo que provocava a perda das colheitas;
qualquer desgraça.
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estilo
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instrumento com que se escrevia nas tabuinhas.
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trabalho feito com esse instrumento; características
da certas produções.
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salário
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importância dada aos soldados para comprarem sal.
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soldo, ordenado.
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